top of page

PROTAGONISTAS NA MEDICINA-VOL. I

DOCUMENTO

História: Arquivos

A LUTA CONTRA A DOR E O SOFRIMENTO

DOCUMENTO

História: Arquivos

EVOLUÇÃO DA CIRURGIA

DOCUMENTO

História: Arquivos

ODONTALGIA/ESTOMATOLOGIA - MEDICINA

DOCUMENTO

História: Arquivos

O CORAÇÃO NA MEDICINA

DOCUMENTO

História: Arquivos

INTERNATO MÉDICO E FORMAÇÂO MÉDICA

A vida é uma aposta num risco.

Ao fim de 81 anos revejo o que arrisquei e fiz, mas malandrice, Maria Albertina…,o meu ego só conta oque me parece melhor, das mediocridades, está quieto…ih.

Fui para Medicina por se tratar de um curso de contacto íntimo com as pessoas, com os doentes e por ser um desafio permanente à inovação e à investigação. Criei com o Prof José Barbas (melhor aluno do meu curso, que só teve notas de 19 e de 20) o Internato Geral Obrigatório, pois durante as cadeiras clínicas do curso, fazíamos sempre os exames em outubro, para irmos depois nas férias para os serviços ver doentes com os melhores médicos e percebemos a grande importância de aprender a ver doentes. Assim e como não nos deixavam falar com o Ministro da Educação, José Augusto Saraiva que era todo salazarista mas simpático, entrámos no gabinete dele misturados com um grupo enorme de senhoras do Movimento Nacional Feminino e escondemo-nos atrás de um reposteiro â entrada do gabinete. Quando o ministro entrou depois de almoço, nós estávamos sentados à sua espera! Apanhou um susto e até ia deixando cair um cigarro da boquilha. Conseguimos pedir-lhe para criar um Internato Geral Obrigatório antes do fim do curso. Ele concordava, mas era preciso convencer o Diretor Geral do Ensino Superior que não concordava. Fomos saber quem era e chegámos à conclusão que este ia ser operado pelo Dr. Gentil, que nos disse que ele  estaria de baixa 20 dias.  Então pedimos ao Ministro se poderia substituí-lo para essa decisão o Prof. Miller Guerra, Bastonário e Professor da Faculdade, e ele concordou. Falámos com o Prof. Miller que não se opunha, mas tinha medo que o Prof. Toscano não concordasse. Pedi então ao tio Acácio para convidar o Prof. Toscano para a matança de um porco, pois sabia que ele adorava, no dia da reunião do Conselho da Faculdade e avisámos o Pro f. Pádua que ao receber uma carta do Prof. Toscano , não a abriu .

Como era urgente que fosse assinado na  reunião do Concelho de Ministros o Zé Barbas e eu próprio escrevemos o projeto de Decreto no Martinho da Arcada e entregámos logo ao Ministro da Saúde Dr. Cancela de Abreu .

Mas a PIDE queria que nós assinássemos, como todos os funcionários públicos, uma declaração em como subscrevíamos a política do governo. Então fui falar com Prof Marcelo Caetano, primeiro ministro, que conhecia, através do sogro o professor João de Barros e do cunhado Professor Henrique de Barros, grandes democratas,  dizendo-lhe que não se compreendia que ele quando era Reitor da Universidade de Lisboa se demitira por a polícia entrar na Universidade, e agora como Primeiro Ministro exigia essa declaração a alunos. Ficou de pensar e depois concordou comigo e nunca mais os funcionários públicos tiveram que assinar.  Foi uma mais-valia da nossa ação.

Pois muito bem, o Internato Geral Obrigatório foi aprovado, os Médicos ao terminarem o Internato da Especialidade, tinham que ficar obrigatoriamente 3 anos no SNS, pois o internato era pago pelo Estado e não fazia sentido que fossemos nós cidadãos, a pagar a formação e os privados a ficarem com eles gratuitamente !!

Agora acabaram com o Internato Geral Obrigatório e os médicos vão logo para a rua ao terminarem a especialidade. Ora digam me lá se isto não é para os mandar para os privados e esvaziar o SNS ? Dizem que o SNS é uma solução política, claro que sim e assim começaram a surgir imensos hospitais privados, que pelos vistos, é um ótimo negócio. Convém saber que os hospitais do SNS têm quase todas as especialidades de urgência e os privados tem-nas de chamada, onde o custo é muito mais barato, mas a demora na chegada do médico ao hospital, em alguns casos pode ser fatal. Aqui têm, como os privados gastam menos mas a segurança é menor….. . No entanto, os melhores serviços clínicos são os do SNS, razão pela qual os doentes mais graves fogem para o SNS. Aliás, de lá surgem a grande maioria dos professores universitários e os trabalhos publicados, são no âmbito do SNS.

Durante o curso frequentei durante 2 anos as consultas de psiquiatria/psicanálise do Professor Cortesão Casimiro, mas pensei optar por outra especialidade, entendendo que foi um erro separarem a neurologia da psiquiatria, o que levava a erros de diagnóstico. Fui então com o Dr. Valadas Preto para ir para hematologia. Mas ele disse-me para não ir para lá pois era uma merda, por não ter laboratório capaz. Ainda estive nas consultas do Prof.  Sales Luís e acabei na Patologia Clínica em dedicação exclusiva no SNS, poia análises em privado é um supermercado de análises e não medicina, com contacto com outras patologias, visitas às enfermarias e consultas.

Assim consegui, por sorte de haver vaga, ser o diretor de serviço mais novo de Lisboa naquela altura.

Um dia um grupo de cientistas estava a observar há tempo uma planta e eis senão quando, a planta morreu. E porquê? Por falta de sol….ih,ih. Cuidado com os exageros.

Assim, dividi o serviço em 5 áreas de responsabilidade, ficando eu com a exclusividade da coagulação e os outros, apesar de me terem que dar contas, tinham muita autonomia, para programas, ensino e investigação o que lhes deu animo para inovar. Optei pela dedicação exclusiva no SNS a maior parte do tempo, por poder passar visita a todos os Serviços e poder discutir as patologias com os colegas muito útil para todos Aliás esse facto permitiu economizar, não se pedindo tantos exames complementares, por serem desnecessários. Todas as secções deviam apresentar todos os anos entre médicos, farmacêuticos, técnicos e pessoal de secretaria, trabalhos de inovação. Nos trabalhos tinham que figurar todos os colaboradores nesses trabalhos, e eu como diretor, só figurava naqueles trabalhos em que trabalhara.  Fomentei muito a investigação e assim felizmente consegui publicar o primeiro trabalho mundial clinico/laboratório  do uso da aspirina em doses baixas para a profilaxia e terapêutica das tromboses arteriais ( infartos do  miocárdio, AVC trombóticos, claudicações intermitentes, amauroses transitórias ..)que ainda hoje se usa em todo o mundo.  Também propus na Sociedade de Cardiologia, numa reunião em que estava o Prof. Lobo Antunes pai, para que se passasse a fazer a fibrinólise nos AVC trombóticos e assim se fez a primeira fibrinólise em Portugal, nesses casos.

Sempre entendi que se devia trabalhar em equipa o que permitiu termos uma excelente colaboração entre todos, assim me foi muito útil ter o apoio do Prof. Engenheiro de hidráulica Abecassis, autor das melhoras barragens mundiais, que me ajudou em reflexões sobre regimes de circulação laminar e outras. Assim como o Prof. de Farmácia Aloísio Marques Leal, nas interferências químicas e autor da Farmacopeia Europeia.  Adorei ensinar os colegas na Faculdade na cadeira de Terapêutica Médica dos Profs. Pádua e Sales Luís e no nosso Serviço mais tarde.  Achava que o fazia bem, quando eles já sabiam mais do que lhes ensinara, pois era prova que perceberam que a ciência vai evoluindo e eles teriam que se atualizar. Foi com satisfação que tive dois colegas do nosso Serviço, que por mérito próprio, chegaram a Professores Universitários e até minha demissão de diretor de Serviço que pedi, por não autorizar que o administrador do Hospital, não sendo médico, tentasse dar orientações clinicas. Também me demiti depois da direção do  Conselho Diretivo da ARSLVT, por ter sido encarregue da parte funcional médica hospitalar, e depois ter sido entregue essa responsabilidade a uma jurista! Tambem senti pressões para autorizar irem doentes cardíacos para cirurgia cardíaca diretamente para a Cruz Vermelha, que  era proibido e aliás eu concordava, só se SNS tivesse listas de espera . Então o ministro Correia de Campos autorizou uma percentagem, o que levou segundo o Tribunal de Contas a um prejuízo de muitos milhares de euros, para o Estado. Comecei então a sentir uma má vontade para comigo, particularmente após o fim dos mandatos do Jorge Sampaio, que era muito meu amigo e achavam que ele me protegeria, o que era um absurdo. É este o país que temos. Foi então que pedi a demissão. Fui depois com o Prof. Seabra Gomes para o Ministério da Saúde onde criámos a Via Verde para enfartes do miocárdio e AVC onde tudo correu bem. Reformei me então, por discordar que um diretor de Serviço do SNS pudesse ter horário parcial e de tarde nos privados.  Disse isso ao então Ministro da Saúde, Correia de Campos, pois isso ia “lixar” o SNS e também os privados. Ele dizia que não, e fizemos uma aposta, se passado um ano eu  tivesse razão pagava-me um almoço, caso contrário pagava-lhe eu a ele. Ora, passado um mês ele disse na televisão que cometera um erro, pois deixara os diretores de serviço do público terem trabalho só de manhã e de tarde irem para privados. Ainda hoje estou à espera do almoço…

Vi com grande alegria o nosso Serviço ser o melhor do país em trabalhos publicados da nossa especialidade.

Fui depois dar consultas de coagulação no Sanatório do Barro e fui Diretor Clinico de um Hospital Privado em Torres Vedras. E dava aulas sobre saúde em 2 Universidades da Terceira Idade. Agora em evolução benigna de um mieloma, já reformado dou consultas médicas gratuitas , pelo telefone. O meu gosto é a prática clínica que foi melhorada pela grande qualidade no SNS e onde se faz grande investigação. Foi boa a escolha do curso que tirei.

Mas não esqueçam que o SNS tem que melhorar na gestão e em disponibilizar melhores condições de trabalho, assim como remunerarem o que é justo aos médicos, até porque é onde se pratica a melhor qualidade de medicina.

 

Escrevia todos os meses no jornal universitário Encontro. Escrevi um artigo contra a prostituição e denunciei o envio de prostitutas pelas forças armadas para as colónias e suspeito que o jornal Encontro passou a ir à censura por esse motivo, acabando por ir à falência …  Gracejando, havia um colega meu que dizia: “não acabes com elas, senão aonde é que vamos?! Por esse motivo recebi ameaças de morte pelo telefone e fui pedir ajuda ao Diretor da Polícia Judiciária, que me começou a mandar todos os dias um polícia ao hospital de Sta. Maria e me ia buscar ao fim do dia. Mostrou-me também o processo de abusos sexuais com menores e políticos. O famoso “ballet  rose”.. e quiseram que ele se demitisse, o que não o fez. Nesse processo figuravam ministros, almirantes (e para meu espanto!!), o Américo Tomás, que curiosamente mais tarde, teve o seu nome retirado do processo!

Por essa altura houve prisões a católicos na Capela do Rato, ode se defendia a discussão da independência das colónias e a defesa do Bispo do Porto exilado em Espanha. Tive sorte por ter saído mais sedo, senão teria sido preso com mais cerca de 70 pessoas. 

Após o liceu comecei a frequentar umas tertúlias em casa de uma professora extraordinária do Liceu, Dra Maria Helena Lucas que reunia com Vitorino Nemésio, Branquinho da Fonseca, Miguel Torga, José Régio, etc., que me levaram mais tarde também a frequentar o curso de Cultura Portuguesa de Vitorino Nemésio, de Literatura Portuguesa de Prado Coelho, pai.  E também umas tertúlias mais ou menos clandestinas com amigos das Associações  de Direito e de Medicina Jorge Sampaio, meu grande amigo, José Jardim, Nuno Brederode dos Santos , Vítor Wingorovius. José Barbas,  Eurico de Figueiredo, de esquerda e de direita Freitas do Amaral, que mais tarde partiram para vários partidos, comunista, socialista, social democratas , CDS, Democratas Cristãos…

Tive sempre a preocupação da aprendizagem permanente e formação de médicos e assim fui bolseiro durante meio ano no Hospital municipal de Estrasburgo, onde consegui um quarto  que me facultaram, o que me permitia ir para o laboratório à noite fazer exames com plasmas congelados durante o dia, o  que me permitiu melhor a preparação em tromboses e hemorragias.

Fui depois 15 dias para Sevilha trabalhar com o Professor Vicente Vicente  em Hemofilias e Doença de Won Willebrant, em Paris com o Professor Tobelem e o Professor Samama, em Milão com Diretor de Hematologia sobre fibrinólises, em Amesterdão o melhor apoio a doentes hipocoagulados do mundo.

Criei cursos de formação em coagulação gratuitos, em fins de semana para todos os hospitais a sul de Coimbra, fora de Lisboa e fui Presidente do 1º Congresso mundial de Trombose e Hemostase de Lisboa.

Autor: Francisco Crêspo

View More
História: Text

MULHERES NA MEDICINA

DOCUMENTO

História: Arquivos

PEDIATRIA NA HISTORIA DA MEDICINA

DOCUMENTO

História: Arquivos

ARQUIVOS

MENTES NA MEDICINA

História: Arquivos

ARQUIVOS

PRÉMIO NOBEL  MEDICINA1ª PARTE

PRÉMIO NOBEL  MEDICINA1ª PARTE

PRÉMIO NOBEL MEDICINA 3ªPARTE

História: Arquivos
bottom of page